Formiginha

Às vezes eu me sinto uma formiguinha no meio de todas aquelas outras no caminho que, de vez em quando, esbarra para pedir informação mesmo sabendo que o caminho é aquele mesmo, a fila.

Eu chamaria de "mim"

Lá existe um lugar
longe dos meus olhos,
sem pensamentos
onde eu não posso estar.

Lá, desculpas e anseios
caminham sem pressa,
prolongando a saudade,
apurando os sentimentos.

Lá, na linha do horizonte
que persegue tua nuca,
o sol tarda a se por
esperando o céu escurecer.

Lá no centro do forte,
cercado por flocos de algodão,
reina o rei de pedras,
uma estátua magnífica.

Lá, no epílogo do sul,
no mais alto morro de areia,
o vento deforma miragens,
constrói amargas vinganças.

Lá onde nada mais existe
uma única luz insiste,
um sopro da chama da vela
que o gigante se nega a apagar.

Sorriso, simplesmente sorriso. Não presica mais que isso. Cansado, com sono, sem graça, sem jeito, feliz. Ela diz que eu fecho os olhos pra sorrir. É pra não cegar com o dela de volta.

Quem pensa que o inferno é abaixo da terra se engana, é acima do céu.

Amor de inverno

Quero você aqui vendo o céu de inverno.
Teu calor a me aquecer.
Uma noite de cada vez.
Alguns momentos infinitos.

Quero você; inteira, quente, calada.
O cheiro atrás da orelha.
Os tantos sinais escondidos, o mais especial.
O gosto salgado do teu paladar.

Quero ser teu e te ter minha, juntos num só, enquanto passa o tempo.
Meu lençol entre teus dedos fechados.
Teus olhos, tua boca, teu corpo quieto embaixo do meu.
Cru, nu, calado.

Quero na varanda, na sala, no quarto, debaixo do chuveiro.
Vivo, disposto, ardente, suado.
Acordado, dormindo, sonhando.
Devagar... tua pele na minha, suave.

Quero você na penumbra, tua respiração.
O toque delicado, despretensioso.
Te encontrar e morrer.
Deitar em teus braços e descansar.