Respirar

Tenha-se,
Retenha-se,
Detenha-se.
Impeça que o ar saia dos seus pulmões,
Prenda a respiração.
Segure!
Não deixe que saia ou que entre ar algum.
Segure e veja tão de perto a morte
Que verás num só movimento,
Numa única ação rápida e espontânea,
O valor de toda a vida,
O ar que entra e sai dos seus pulmões.

Belo dia

Tinha esquecido de como é bom regressar ao passado! Melhor ainda quando se trata do seu passado que não lhe pertence. Bisavós, tataravós e tome vós por aí afora. Ah, como era boa a vida, e sofrida também - o que provavelmente a tornava tão boa!
Quinta-feira combinei com minha de almoçar com ela no domingo - hoje - pra tomarmos uma cervejinha escutando Agostinho dos Santos - minha é apaixonada por ele, "ô nego feio pra cantar bonito", diz ela. Eu - como já era de se esperar - esqueci de comprar o diabo do cd pra gravar as músicas pra escutarmos. Andei por aqui procurando o tal do cd pelos mercadinhos que ainda estavam abertos - é muito abuso querer achar cd virgem já quase uma da tarde num domingo -, obviamente não encontrei nada. Cheguei lá de mãos abanando, mas não é que a véia é esperta?! Estava lá uma amiga com DOIS cds virgens - tenho muito o que aprender mesmo, eu, crescido na era da informática, não consigo comprar UM cd num dia de domingo. Minha avó, nascida de parteira me consegue DOIS. Veja como são as coisas... Ela não queria mesmo ficar sem escutar Agostinho dos Santos, decidida estava ela. Fui lá no computador e coloquei pra gravar um Álbum de Agostinho dos Santos & Maysa e um de Vinicius de Moraes e Toquinho num álbum todo em italiano - botei pra fuder! Nessa hora desci pra começar os serviços com ela - na geladeira tinha três cervejas em lata -, abrimos uma e ficamos no sofá conversando enquanto gravava o cd. Tempinho depois subi e peguei o cd pra escutarmos. "Eeeeeeitaa isso é bonito demaais, isso que é música!!!" - é verdade, ô nego feio pra cantar bonito! Não deu tempo de terminar a terceira música pra ela terminar a segunda cerveja e abrir a outra. "Meu filho, quer tomar mais uma cervejinha?!" - já não era mais uma pergunta, os cascos da cerveja estavam em cima da mesa e o dinheiro do lado - "Mahr, e eu corro??" - fui comprar.
Essa segunda leva de cerveja veio recheaada de histórias de aventura, de sonhos, de arrependimentos, de tristeza, de cansaço, de entrega... Um mergulho profundo na vida de uma pessoa, e na vida de pessoas que fizeram parte da vida dessa pessoa. Histórias bonitas, escuras, solitárias, as lágrimas passearam pelos olhos algumas vezes, mas não caíram. Não sei pra onde olhavam aqueles olhos, mas estavam longe, parados em algum momento feliz...

Escarro do Dia

Bom, como o momento é bom e a paixão pelas letras escritas e faladas aumenta a cada dia, decidi dividir meus pensamentos em duas etapas. A primeira é o "escarrododia", blog onde irei colocar meus pensamentos, frases soltas, loucuras como já vinha fazendo aqui. Essa é a primeira etapa porque é a que eu escrevo de manhã quando venho estudar. E a segunda etapa é este blog aqui mesmo. Com essa divisão voltarei a trazer temas mais densos em mim e tentar expô-los a quem quer que leia estas palavras tortas e apaixonadas. Espero que as mudanças sejam bem recebidas.

http://www.escarrododia.blogspot.com/

ELOGIO À PREGUIÇA

Bendita sejas tu,
Preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!
Mas queiras tu,
Preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.
Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.
Lá esta, na Bíblia, esta doutrina sã:
-Não te importes com o dia de amanhã.
Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.
Ó sábios , daí à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento!
Todo trabalho humano, em que se encerra?
Em na paz, preparar a luta, a guerra!
Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões!
Juristas, que queimais vossas pestanas,
Tudo que legislais dá em pantanas.
Plantas a terra, lavrador?
Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas...
Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
- Mas uma rês votada ao matadouro! ...
Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz,
Que arda, depressa , a colossal fogueira
E morra assada, a humanidade inteira!
Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente?
Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?
Queres riquezas, glórias e poder? ...
Para que, se amanhã tens de morrer?
Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro,
Ou seus antepassados que, selvagens,
Viviam, livremente, nas pastagens?
Do Trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas!
Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
As preguiçosas, pálidas cigarras!
Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,
E, que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor - por outro amor...
Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal.
Que me não faças mais essa injustiça! ...
Se ontem não fui te ver - foi por preguiça.
Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir... sonhar ...


E assim foi Juvenal Antunes!

Intimidade é sentir-se livre pra ficar em silêncio.

Presente

Ganhei da dona da mão que segura meu coração:

O presente é o resultado final que se prorroga eternamente.

Espero que faça parte sempre do meu presente...

O interfone tocou há pouco, bem que poderia ser você dizendo que chegou e pedidno pra entrar...

Menina de lá

Depois de um bom recoloquei as cordas no meu velho violão. Deitado na rede olhando o céu conturbado da actual Recife, que está mais para "Hellcife", lembrei duma certa menina. Com os dedos doendo pela falta de exercícios deixei sair palavras que dizem assim:

Sinto saudades daquela menina
Que tão distante atormenta minha sina
De viver um eterno não ser.
Sinto saudades da luz, lamparina
Que me acende o sabor de não sei
E me transforma em fel, em ruínas
confrontando o ser e o não ter.
Sinto saudades daquela menina
que tão distante me faz me perder.
Veio de onde, ó estrela divina?
Me responda que eu quero saber.
Pra onde vou, aonde estou não me diga.
Dê-me seu mel, seu sabor, meu prazer.

Piscina de bolinhas

Queria só um abraço, um afago, um cafuné, ou um carinho qualquer! Se não tiver me dê uma piscina de bolinhas, assim eu posso mergulhar, me aconchegar, dormir e sumir por alguns minutos dos olhos do mundo...

Olhar

Olhando mais perto se enxerga mais longe!

Vida


Talvez por tudo ser assim mesmo: água escorrendo e roda girando.


A felicidade é tudo isso que está ao seu lado, sorria!

Noite turva

Naquela noite turva, nós a caminhar
Em busca de lugares escuros
E portões trancados, ficamos a vagar.
Sem rumo, sem decência, sem pudor,
Entramos no caminho estreito da emoção,
Do desejo ardente e do prazer.
Seguimos trêmulos e inseguros
Pelo caminho inexplorado de folhas secas.
Por um momento quase fomos pegos,
Olhos vermelhos a nossa espreita
Olhando suspeitos, indignados, procuravam a denuncia.
Astutos e velozes correram ao refugio,
Retardaram sabiamente o ataque fatal.
Aliviados, seguimos adiante
Em nossa aventura marginal.
De longe sentia-se um cheiro explosivo.
Não intimidado segui ao seu encontro
A fim de continuar em outros ares
O passeio com gosto de aventuras noturnas.
Neste momento, sem o menor cuidado
Risquei inocente e despreocupado meu isqueiro.
Foi o bastante para a explosão.
De repente nada mais se via.
Luzes opacas, fumaça, e muito fogo
Tomavam conta do ambiente
A força e a velocidade de um furação.
Como se tudo fosse uma só força
Que me prendia na parede, me impedia de respirar
E de pensar numa saída, numa alternativa.
Caí de joelhos, não resistia mais, não queria,
Me entreguei a toda a tormenta, aceitei meu destino.
Já entregue, decidido a morrer queimado,
De joelhos diante de ti, surge voando
Sobre a fumaça que nos rodeava
Um morcego com seu canto estridente.
Cantando e batendo suas asas sobre o fogo,
Aos poucos o apagou de vez
E podemos assim sair tranquilamente de lá.
Ao abrir a porta pude entender,
Lá estava ele, o homem dos olhos vermelhos
Saboreando irônico sua vitória,
Rindo solitário porque é assim que ele é.
Saímos de lá, caminhamos perdidos
E desorientados pelo calor e fumaça em excesso
Por algum tempo.
Este tempo, de silencio confuso e indeciso
Durou uma eternidade de vento nos ouvidos,
Mas em fim chegamos,
E na porta da tua casa ouvi de ti a sabia frase:
Isso não pode mais acontecer.

Obrigado!

Pediu? Então lá vai...
Agora são exactamente 07:34, tem mais ou menos uma hora que acordei. Dormi na rede essa noite, tenho achado melhor dormir na lá. Pois aconteça o que acontecer, dormindo a hora que for, lá, 6 horas estou de pé. Todos os dias vejo o dia nascer, dou bom dia ao sol, ao céu, liberto todas as minhas tensões, preguiças, cansasos e ressacas numa espreguiçada demorada e gostosa. Água, como meu pai bem dizia: coisa boa é água... Concordo é a primeira coisa que invade meu corpo, depois, meu chá verde no banheiro. E aí posso começar o dia!
Só que o dia ainda não me conta novidades, o céu está claro, bem azul, aquele azul que dói, o azul de Recife, mas tem algumas nuvens grandes no céu anunciando que o inverno vem por aí. E já que estamos assim, no começo do dia, vou tentar soltar o que me aconteceu nos últimos meses...

Cheiro estranho, noite escura, cidade acesa.
Cheiro doce, saboroso, de encher a boca.
Cheiro, cheiro de mais,
Cheiro de não vou parar por aqui.

Cores
Brilhantes, opacas,
novas, velhas e usadas.
Essas cores da vida.

Nascimentos
Não menos que seus noventa e tantos
Nos últimos três meses.
E aja menino no mundo.

Mortes houveram muitas,
O batalhão teve muitas baixas,
O chão está lavado de sangue,
Mas o que é isso que está nascendo aqui?

Novidade,
Nova idade, vida nova, tudo novo.
Dias e dias que se passaram
Como vento na praia!