Crer

Como entender a condição de "verdade"? Como decidir qual realidade escolher diante da dúvida? A que lhe agrade. Essa é a condição de "verdade", responder o maior numero de dúvidas, o que certamente nos agrada bastante enquanto seres racionais. A verdade é tendensiosa, existem tantas quanto realidades. Cada olho uma visão, cada cabeça um pensamento, todas realidades únicas e igualmente verdadeiras. Cada ser, de acordo com suas experiências, desenvolve linhas de raciocínio nas quais se basea quando toma uma decisão. As experiências que um indivíduo vive ao longo de sua vida definem gradualmente o que ele fará em seguida, o que o leva pra uma nova experiência, que dá início a um novo ciclo de perguntas e respostas. Isso pode acontecer consciente ou inconscientemente. Mesmo que o individuo não esteja ciente de que esteja vivenciando uma experiência, ele registra os acontecimentos e encontra elementos importantes neles, quanto mais informação, mais respostas, satisfação garantida. Entretanto, nem sempre os caminhos criados satisfazem igualmente os dois seres que preenchem um ser humano, o ser racional e o sentimental (Freud que me ajude, mas não consigo tirar da cabeça que esse ultimo tem relação estreita com a criança). As experiências passadas estão registradas, foram vivenciadas, aconteceram, porém agora estão estáticas. As novas experiências e suas novas informações podem destruir ou mudar drasticamente uma linha de raciocínio, o que pode levar também a um novo entendimento das experiências passadas. Um novo olhar sobre o passado e lá estão novos elementos antes não vistos, menos vistos ainda quando se vivia, e vai o passado mudando o futuro. O presente é uma transição, é muito rápido, não se pode nem entender que se vive e já se passou. Passado e futuro estão muito mais próximos do que se pode imaginar. A verdade está em tudo que se vive.

Entre lá e cá

É como se ela estivesse no meio, ali no limite entre o céu e a terra. A linha que divide. 100% ambas as partes. 50%? Não, 100% ambas. Tudo do céu e tudo da terra, todas as interpretações valem. Vida de linha também é vida dura. Ser tudo e ser nada.
Ser nada pra ser tudo, mas antes ser tudo pra ser nada. Hoje não faço mais questão de muita coisa, já experimentei de muitos sabores, gosto de temas e tenho imagens e sensações guardadas que gosto de cultivar. Faço questão de paz, de buscar constantemente o equilíbrio e de carinho. Carinho no mundo. Brincadeira, sorrisos, afagos, companheirismo, respeito. Que a alegria esteja solta no ar.
Alguns sentimentos, algumas sensações, só são possíveis quando há a soma de outros. Como em qualquer espaço, toda ação causa uma reação... blá blá blá. As vezes esquecemos algumas coisas soltas no ar e aí a fórmula muda. O limite entre o céu e a terra. Pouco pensado, mas existe e é fácil saber onde está.
Harmonia é quando se tem os pelos arrepiados. É quando os pés tocam o chão e a alma é sugada em direção aos céus. Harmonia é quando forças são usadas de modo proporcional as necessidades e uma em função da sobrevivência da outra.
As oposições não só se atraem como se alimentam. Pensando assim é de imaginar que se destruam também. Os gregos adorariam este final. A tragédia nem sempre é necessária, um homem morto com um olho entreaberto e um meio sorriso é uma comédia, só a cabeça dele é tragédia. As vezes esquecemos algumas coisas soltas no ar e aí a fórmula muda.

Algum sentido

Pode ser que eu tenha visto algo mais do que se tinha a ver realmente. Real, mente. Talvez sim. Talvez não. Como diria o outro: depende dos olhos de quem vê. Realmente. As coisas na verdade nunca são tudo aquilo que vemos. Geralmente são mais, algumas vezes são menos. Geral, também mente. Geralmente.
Esperar que tudo venha, que tudo siga, que tudo flua. Esperar. Fazer e esperar. O resultado sempre vem depois, por mais que se saiba antes. O tempo muda. Mudo e calado sopra caricias e uivos nas madrugadas frias. O tempo só pode ir. Eu posso voltar. Volto quando vou e quando fico e fico quando volto. Então vou, volto e espero pra ir novamente.
Quem mais brincaria comigo, com o tempo e com os sonhos se não o destino? E onde ele está quando mais eu preciso? E onde ELA está quando eu não estou aqui? E onde eu estou quando não estou aqui? E onde nós estamos agora? Aqui? Certamente. Certa, mente. Mente?
Aos que lêem, as noticias em palavras escritas. Aos que escutam, em palavras ditas. Aos que sentem, ... Os que sentem não carecem de palavras.

"Diálogo"

- Ninha, cadê A máquina?
- Que máquina?
- O filme.
- Que filme?
- A máquina!
- Aaaah, A máquina, o filme?


Coisas de Danielle, "cozinha americana tipo aquelas americanas", mais ou menos assim!

Amu tu!

Minha Eterna Párea

Mas quem disse que precisa entender...
As coisas boas são assim, vão da água ao vinho do dia pra noite e do vinho à água da noite pro dia, sem se perder no caminho...
O primeiro beijo foi como beber o ar da primavera, de gosto azul e fragrância fria, com um peso específico de sonho...
Após alguns dias de sono acordei com um gosto amargo na boca. Com certeza proveniente dos tragos que me deram tanto prazer outrora.
Ressaca! Água, por favor, me tragam um copo d’água ou outra dose de cachaça, com um peso específico de poesia. Preciso acalentar minha dor, já que curá-la agora não é possível.
Música! Por favor, toquem uma boa música daquelas que em dó menor rasga o peito e cutuca a ferida. Preciso gastar essa saudade, que me tira a fome, me dá sede e faz o tempo parar nas coisas.
Vontade! Por favor, tragam meu bem pra perto de mim. Preciso matar essa vontade, quero novamente ser tragada pelo teu riso, me enganar com tuas frases perfeitas.
Mas agora é tarde. O encanto foi quebrado. Só nos restou a amizade. Só isso, apenas isso (e não é pouco)! Te amo desde sempre e para sempre! Faremos um “filho” belo

Imagem em ação fértil

Chega uma mensagem que torna mudo.
Silencio saboroso, gosto de devaneio.
Sonho com textura e realidade.

É sonhando de olhos abertos que se vê os olhos brilharem.
Quando se olha, as coisas se materializam e tudo torna-se real.
Quando toca-se, ouve-se e sente-se, mais real ainda.

Espero, tudo e mais um pouco, em parcelas ou de uma vez.
Respirar, suspirar acolhido em braços soltos.
Deixar a porta aberta e esperar sentado na varanda.

Sonhei, quis e imaginei, ali.
Mas sonhar é bom quando se está acordado,
O beijo que foi dado quando se estava dormindo não tem o mesmo sabor.

Tato, sabor, cheiro, fantasia, real.
É de um beijo quente, molhado, suado, chovido, vivido e muito, muito, muito esperado
Que os cheiros e toques, suspiros e arrepios viram cenário de uma fantasia real.

Nesse bater forte de tambores que ensurdece,
Ajudas a lembrar daquilo que não lembro
E me mostra tanta coisa boa que nem a minha imaginação fértil alcança.

Recortes

Pensando bem está na hora de querer mais. Mais, mais de mim. Solidez. De palavras curtas vem a certeza. Sim. Não. Talvez... Quero. Fragmentos que entregam todo o sabor de uma longa história. Mas toda a história não se entende em fragmentos, a história é ela toda. Simples, elas por elas. O sabor que tem ou deixa de ter determinado momento é ilustração, e cá entre nós, belíssimas ilustrações... Partes de uma longa história que pode apenas ter começado, ou estar terminando. Emoção. Isso move. Razão. Freia. Essenciais. Nada melhor que um bom freio pra descer uma ladeira. E como é bom o pé no acelerador numa estrada livre e segura guardado por bons amigos e um belo por do sol!!! Cada ferramenta na sua hora, perfeito! Pensando bem está na hora de querer mais. Mais de mim.

Sorrimos

Eu não consigo dizer nenhuma palavra.
De todos os que nos acompanharam eu lembro bem daquele que surgiu distante, escondida por entre os braços, ombros, pescoços e cabeças que passavam no caminho entre nós. Não sei exatamente porque esse entre todos os outros. Mas eu lembro que surgiu nos olhos, eles encontraram, sorriram se derretendo num piscar lento e quando na mesma velocidade se abriam, ferveram as maçãs do rosto que subiram apertando os olhos, puxando um sorriso mágico, encantado, íntimo.
Eu não consigo dizer nenhuma palavra diante de um sorriso.

Acho que a graça nisso tudo é poder brincar. Saber onde está a brincadeira também é legal. Ver quem está brincando, brincar com eles, ver quem não está brincando. É bom saber de quem também. Aí acho que é por isso que me chamam de doido. Eu só não imagino como poderia ser de outro jeito.

Voltei!

Meus dedos ainda estão gelados, falta quem os esquente. No couro, na pele, não sei se ainda resta algo que se assemelhe a algum cheiro, o que tinha foi sugado, absorvido, lentamente, suave. Também os meus olhos pararam de enxergar. Será que é contagiante? No máximo caso pra óculos!
Meus dedos estão dormentes e saber o que me causa esta dormência não é tarefa das mais fáceis, minha mãe chegou a perguntar pelo meu fígado, ?????, mas o que tem meu fígado com a ponta dos meus dedos dormentes? Vai saber... O fato é um só, estão dormentes. Lembro de que ele ficou gelado demais na serra, mas será que foi o cigarrinho no frio? Que decida Vanilce.
Saudade denovo apertando... Mas que coisa, que perseguição desta tal de saudade. Nunca está contente, ou está, e por isso está sempre presente?! Melhor pensar que sim, se é pra sofrer, sejamos felizes sofrendo. É como deixar um pedacinho de si em cada porto, em cada parada. Se esquecer por aí e depois sentir saudades de si mesmo. Mas lá, saudades de si lá, naquele tempo que se foi, naquele lugar que pode ou não estar lá.
De todas as consequências geradas por este movimento, a que mais me inquieta é a sensação de que sempre se está incompleto. Porque nunca se está em todos os lugares com todas as pessoas ao mesmo tempo. Não por falta de vontade ou dedicação, mas pela impossibilidade deste se tornar um evento real.
Mas a beleza disso tudo... ser capaz de sentir, de ver, ouvir. Ser capaz de se transmitir. A saudade é obstinada, desejo capaz de parar o tempo ou de fazê-lo caminhar depressa. É forte, resiste impiedosa durante longos períodos, mesmo que não seja alimentada. É cega, surda e muda, mas consegue remoer sensações e sentimentos de onde não... de onde nem sequer sabemos. É diretora dos assunto de ausência, sempre tentando tapar um buraquinho que ficou em algum lugar.
Serve de que mesmo? Cultiva mais um pouquinho, racionaliza outro tanto, resgata momentos, preenche. Sei não direito isso não. Pronto falei. Tudo isso porque meus dedos ainda estão gelados.

De criança

Ah, eu queria escrever alguma coisa beeeeeem munita pra tu!
Mas eu não sei, não sei o que dizer...
Um dia saberei e direi tudo, do jeito que eu quero que seja!
Tentarei não prolongar este momento, esta conexão, este encontro de fatores.
Uma frase atrás da outra quer dizer mais do que acreditamos, vemos, ou entendemos.
Um dia farei,
Um dia direi tudo como quero dizer.
Um dia!

15 minutos

Acordar com os sol nas minhas pernas, me acordando pra dar bom dia. Virar pro lado tentando me esconder da brincadeira. Desistir e ir pro sofá. Levantar e ligar o ventilador. Colocar o relógio pra despertar "já já". Acordar um pouquinho depois de "já já". Levantar, ligar a televisão, tomar água e ir ao trono. Ligar o computador, ir pra cozinha, preparar o café da manhã e voltar. Tomar café olhando a tela do monitor e escutando uma banda qualquer de pagode na Ana Maria Braga. Lembrar do dia anterior olhando o papel de parede com um texto que eu fiz pra Ninha, planejar o dia actual. Entrar no MSN, orkut, blogs e e-mails pra me actualizar. Pensar naquela menina. Sorrir! É, hoje tem sol. Adoro meus primeiros 15 minutos do dia! Terminei meu café da manhã!

Respirar

Tenha-se,
Retenha-se,
Detenha-se.
Impeça que o ar saia dos seus pulmões,
Prenda a respiração.
Segure!
Não deixe que saia ou que entre ar algum.
Segure e veja tão de perto a morte
Que verás num só movimento,
Numa única ação rápida e espontânea,
O valor de toda a vida,
O ar que entra e sai dos seus pulmões.

Belo dia

Tinha esquecido de como é bom regressar ao passado! Melhor ainda quando se trata do seu passado que não lhe pertence. Bisavós, tataravós e tome vós por aí afora. Ah, como era boa a vida, e sofrida também - o que provavelmente a tornava tão boa!
Quinta-feira combinei com minha de almoçar com ela no domingo - hoje - pra tomarmos uma cervejinha escutando Agostinho dos Santos - minha é apaixonada por ele, "ô nego feio pra cantar bonito", diz ela. Eu - como já era de se esperar - esqueci de comprar o diabo do cd pra gravar as músicas pra escutarmos. Andei por aqui procurando o tal do cd pelos mercadinhos que ainda estavam abertos - é muito abuso querer achar cd virgem já quase uma da tarde num domingo -, obviamente não encontrei nada. Cheguei lá de mãos abanando, mas não é que a véia é esperta?! Estava lá uma amiga com DOIS cds virgens - tenho muito o que aprender mesmo, eu, crescido na era da informática, não consigo comprar UM cd num dia de domingo. Minha avó, nascida de parteira me consegue DOIS. Veja como são as coisas... Ela não queria mesmo ficar sem escutar Agostinho dos Santos, decidida estava ela. Fui lá no computador e coloquei pra gravar um Álbum de Agostinho dos Santos & Maysa e um de Vinicius de Moraes e Toquinho num álbum todo em italiano - botei pra fuder! Nessa hora desci pra começar os serviços com ela - na geladeira tinha três cervejas em lata -, abrimos uma e ficamos no sofá conversando enquanto gravava o cd. Tempinho depois subi e peguei o cd pra escutarmos. "Eeeeeeitaa isso é bonito demaais, isso que é música!!!" - é verdade, ô nego feio pra cantar bonito! Não deu tempo de terminar a terceira música pra ela terminar a segunda cerveja e abrir a outra. "Meu filho, quer tomar mais uma cervejinha?!" - já não era mais uma pergunta, os cascos da cerveja estavam em cima da mesa e o dinheiro do lado - "Mahr, e eu corro??" - fui comprar.
Essa segunda leva de cerveja veio recheaada de histórias de aventura, de sonhos, de arrependimentos, de tristeza, de cansaço, de entrega... Um mergulho profundo na vida de uma pessoa, e na vida de pessoas que fizeram parte da vida dessa pessoa. Histórias bonitas, escuras, solitárias, as lágrimas passearam pelos olhos algumas vezes, mas não caíram. Não sei pra onde olhavam aqueles olhos, mas estavam longe, parados em algum momento feliz...

Escarro do Dia

Bom, como o momento é bom e a paixão pelas letras escritas e faladas aumenta a cada dia, decidi dividir meus pensamentos em duas etapas. A primeira é o "escarrododia", blog onde irei colocar meus pensamentos, frases soltas, loucuras como já vinha fazendo aqui. Essa é a primeira etapa porque é a que eu escrevo de manhã quando venho estudar. E a segunda etapa é este blog aqui mesmo. Com essa divisão voltarei a trazer temas mais densos em mim e tentar expô-los a quem quer que leia estas palavras tortas e apaixonadas. Espero que as mudanças sejam bem recebidas.

http://www.escarrododia.blogspot.com/

ELOGIO À PREGUIÇA

Bendita sejas tu,
Preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!
Mas queiras tu,
Preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.
Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.
Lá esta, na Bíblia, esta doutrina sã:
-Não te importes com o dia de amanhã.
Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.
Ó sábios , daí à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento!
Todo trabalho humano, em que se encerra?
Em na paz, preparar a luta, a guerra!
Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões!
Juristas, que queimais vossas pestanas,
Tudo que legislais dá em pantanas.
Plantas a terra, lavrador?
Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas...
Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
- Mas uma rês votada ao matadouro! ...
Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz,
Que arda, depressa , a colossal fogueira
E morra assada, a humanidade inteira!
Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente?
Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?
Queres riquezas, glórias e poder? ...
Para que, se amanhã tens de morrer?
Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro,
Ou seus antepassados que, selvagens,
Viviam, livremente, nas pastagens?
Do Trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas!
Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
As preguiçosas, pálidas cigarras!
Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,
E, que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor - por outro amor...
Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal.
Que me não faças mais essa injustiça! ...
Se ontem não fui te ver - foi por preguiça.
Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir... sonhar ...


E assim foi Juvenal Antunes!

Intimidade é sentir-se livre pra ficar em silêncio.

Presente

Ganhei da dona da mão que segura meu coração:

O presente é o resultado final que se prorroga eternamente.

Espero que faça parte sempre do meu presente...

O interfone tocou há pouco, bem que poderia ser você dizendo que chegou e pedidno pra entrar...

Menina de lá

Depois de um bom recoloquei as cordas no meu velho violão. Deitado na rede olhando o céu conturbado da actual Recife, que está mais para "Hellcife", lembrei duma certa menina. Com os dedos doendo pela falta de exercícios deixei sair palavras que dizem assim:

Sinto saudades daquela menina
Que tão distante atormenta minha sina
De viver um eterno não ser.
Sinto saudades da luz, lamparina
Que me acende o sabor de não sei
E me transforma em fel, em ruínas
confrontando o ser e o não ter.
Sinto saudades daquela menina
que tão distante me faz me perder.
Veio de onde, ó estrela divina?
Me responda que eu quero saber.
Pra onde vou, aonde estou não me diga.
Dê-me seu mel, seu sabor, meu prazer.

Piscina de bolinhas

Queria só um abraço, um afago, um cafuné, ou um carinho qualquer! Se não tiver me dê uma piscina de bolinhas, assim eu posso mergulhar, me aconchegar, dormir e sumir por alguns minutos dos olhos do mundo...

Olhar

Olhando mais perto se enxerga mais longe!

Vida


Talvez por tudo ser assim mesmo: água escorrendo e roda girando.


A felicidade é tudo isso que está ao seu lado, sorria!

Noite turva

Naquela noite turva, nós a caminhar
Em busca de lugares escuros
E portões trancados, ficamos a vagar.
Sem rumo, sem decência, sem pudor,
Entramos no caminho estreito da emoção,
Do desejo ardente e do prazer.
Seguimos trêmulos e inseguros
Pelo caminho inexplorado de folhas secas.
Por um momento quase fomos pegos,
Olhos vermelhos a nossa espreita
Olhando suspeitos, indignados, procuravam a denuncia.
Astutos e velozes correram ao refugio,
Retardaram sabiamente o ataque fatal.
Aliviados, seguimos adiante
Em nossa aventura marginal.
De longe sentia-se um cheiro explosivo.
Não intimidado segui ao seu encontro
A fim de continuar em outros ares
O passeio com gosto de aventuras noturnas.
Neste momento, sem o menor cuidado
Risquei inocente e despreocupado meu isqueiro.
Foi o bastante para a explosão.
De repente nada mais se via.
Luzes opacas, fumaça, e muito fogo
Tomavam conta do ambiente
A força e a velocidade de um furação.
Como se tudo fosse uma só força
Que me prendia na parede, me impedia de respirar
E de pensar numa saída, numa alternativa.
Caí de joelhos, não resistia mais, não queria,
Me entreguei a toda a tormenta, aceitei meu destino.
Já entregue, decidido a morrer queimado,
De joelhos diante de ti, surge voando
Sobre a fumaça que nos rodeava
Um morcego com seu canto estridente.
Cantando e batendo suas asas sobre o fogo,
Aos poucos o apagou de vez
E podemos assim sair tranquilamente de lá.
Ao abrir a porta pude entender,
Lá estava ele, o homem dos olhos vermelhos
Saboreando irônico sua vitória,
Rindo solitário porque é assim que ele é.
Saímos de lá, caminhamos perdidos
E desorientados pelo calor e fumaça em excesso
Por algum tempo.
Este tempo, de silencio confuso e indeciso
Durou uma eternidade de vento nos ouvidos,
Mas em fim chegamos,
E na porta da tua casa ouvi de ti a sabia frase:
Isso não pode mais acontecer.

Obrigado!

Pediu? Então lá vai...
Agora são exactamente 07:34, tem mais ou menos uma hora que acordei. Dormi na rede essa noite, tenho achado melhor dormir na lá. Pois aconteça o que acontecer, dormindo a hora que for, lá, 6 horas estou de pé. Todos os dias vejo o dia nascer, dou bom dia ao sol, ao céu, liberto todas as minhas tensões, preguiças, cansasos e ressacas numa espreguiçada demorada e gostosa. Água, como meu pai bem dizia: coisa boa é água... Concordo é a primeira coisa que invade meu corpo, depois, meu chá verde no banheiro. E aí posso começar o dia!
Só que o dia ainda não me conta novidades, o céu está claro, bem azul, aquele azul que dói, o azul de Recife, mas tem algumas nuvens grandes no céu anunciando que o inverno vem por aí. E já que estamos assim, no começo do dia, vou tentar soltar o que me aconteceu nos últimos meses...

Cheiro estranho, noite escura, cidade acesa.
Cheiro doce, saboroso, de encher a boca.
Cheiro, cheiro de mais,
Cheiro de não vou parar por aqui.

Cores
Brilhantes, opacas,
novas, velhas e usadas.
Essas cores da vida.

Nascimentos
Não menos que seus noventa e tantos
Nos últimos três meses.
E aja menino no mundo.

Mortes houveram muitas,
O batalhão teve muitas baixas,
O chão está lavado de sangue,
Mas o que é isso que está nascendo aqui?

Novidade,
Nova idade, vida nova, tudo novo.
Dias e dias que se passaram
Como vento na praia!

Hoje acordei mais tarde

Hoje acordei mais tarde. Antes de dormir tentei contar a respiração 100 vezes mais de 100 vezes, nenhuma com sucesso, dormir antes de conseguir. Isso me fez dormir um pouco mais tarde, ou mais cedo, pois foi o que controlou a ansiedade. O dia está lindo, o céu azul ofuscante, chega a doer olhar para as poucas nuvens brancas no céu. O calor, claro, vem junto, mas é verão, quem se importa???
Hoje acordei mais tarde e terei agora menos tempo pra fazer tudo que queria fazer no dia, novamente terei que entrar na escuridão da noite, o que me fará "comer", mais uma vez, um pedacinho do dia seguinte. Talvez haja uma época em que eu seja só noite e sonhe de dia. Na verdade estaria regressando a um tempo que já se foi, mas não posso, não quero e não devo, não mais. Quero passar as noites e ver os dias, e nas noites que eu puder e quiser ver, que sejam assim porque pude e quis. Não quero mais ser possuído por espíritos zombeteiros que ficam a sorrir e provocar com contos e lendas ao meu ouvido, enquanto conto minha respiração a fim de não escutá-los. É difícil tentar ter paz e descansar num sono tranquilo ao tempo que vozes loucas, esquizofrênicas como um eletrocardiograma, gritam, berram, choram, lamentam seus temores e fraquezas ao seu ouvido. O sono se afasta com medo, o coração acelera como se se preparasse para a guerra, o corpo se agita e inevitavelmente os olhos se abrem. Pude fitar o teto algumas vezes, a lâmpada pisca tímida, quase não se nota, eu notei.

Entre o perto e o longe
Há um lugar certo,
Nem perto de ser longe
Nem longe de ser perto.
Entre os dois lados
Em um lugar incerto.
Se há um lugar certo
Num lugar incerto
Nem perto de ser longe
Tampouco de ser perto,
Está no lugar certo.

Amar

Amar é enxergar o belo
E se emocionar ao ver.
Amar é sentir-se vivo
E gostar disso.
É sentir que quem se ama
Está sempre perto,
Porque realmente está.
É viver intensamente
E ver nas coisas mais simples
A verdadeira razão de viver,
Amar.

Luz dos olhos

Despir-se por inteiro,
Olhar-se nu
Diante do espelho.
Ir a algum lugar,
Chegar a um lugar qualquer,
Apaixonar-se pelo sol
Até a chegada da lua.
E então ali,
Nu,
Diante da imensidão do mar,
Gritar.
Fazer soar por todo o mundo
Que esse mesmo mundo não há
Sem a luz dos olhos dela.

Mulher do Ninho

Ela não sabe de onde vem esse segredo, nem jamais saberá, ninguém sabe. Não nasce numa fonte límpida e cristalina, não jorra do seio da terra. Segredo sem início, sem fim e sem meio. Segredo que é, que surge a cada briga, a cada sorriso, a cada ordem – que são muitas – segredo além do tempo, parado no espaço. Segredo que nunca será dito, pois não se pode dizer. Segredo nos olhos, segredo nos ouvidos, segredo na pele, simplesmente segredo, imortal, pois não vive. Segredo que mata, mata de saudades, mata de ansiedade, mata de orgulho, de satisfação. Segredo assassino, impiedoso, cruel, desleal, não espera sequer a porta bater na sala e já está a atormentar os sentidos. Este segredo silencioso faz de você só minha sem nunca temer sua ausência, mesmo que ele me rasgue em mil pedaços, você virá me juntar, pedacinho por pedacinho e me fará inteiro novamente, e assim me sinto livre pra me despedaçar. Nós dois sabemos desse segredo, mulher do ninho, nós dois em um só, somos o segredo eterno. Segredo sem nome, sem idade, sem sexo, segredo, apenas segredo, que nos faz um só em vidas separadas e nos faz dois em vidas conjuntas. Amo-te porque te amo, segredo sem motivo de ser segredo e que não se faz necessário deixar de sê-lo. Grito, grito mesmo, e quem não quiser ouvir que feche os olhos: meu segredo é teu segredo, minha alma é só segredo, minha vida ao teu lado não tem segredo. Mulher, oh mulher daquele ninho, dedico a ti todos os meus segredos, peço que queime-os no fogo da tua alma e os faça ressurgir em mim como teus segredos, pois nossos são os segredos que existem em mim, em ti e entre nós, e no final não existem tais segredos.

Perdido José

Saí pela calçada
Olhando a estrada
E de repente me perdi
Vi alguém chegando perto
Fiquei com medo de certo
Mas dali eu não saí
O olho era vermelho
Tinha fogo no cabelo
Eita porra agora eu vi
Nem me pergunte irmã
Quem tava ali era Satã
E quando eu soube quis sair
Mas não me mexia
De mim só o mijo saia
E de joelhos caí
Rezei pra meu “Padin padi Siço
Pra q não fizesse isso comigo
E o capeta tirasse dali
De repente ele apareceu
Meu corpo todinho tremeu
E ele veio até mim
Tava diferente
Disse com uma voz estridente
-Porque me chamas aqui?
Oxi padin nem lhe digo
Em que pé tava o perigo
Quando cheguei aqui
O capeta apareceu
A mijadeira escorreu
E pelo senhor eu pedi
-E onde está Satã?
Aí foi que lascou irmã
Que ele não tava mais ali
Eu quis lhe dizer
Ele nem quis saber
E foi falando pra mim
-Me diga de pé
Como fizeste José
Pra chegar até aqui?
Eita rapaz
Parece que não ouve mais
Se eu soubesse não estava perdido
Pergunte uma melhor
Pra gente deixar no pó
O que aconteceu aqui
-Está bem José
O que fazias criatura
Antes de vir aqui?
Vixe que deu até um chilique
Voltei pra casa num pique
Pra tomar minha cana com raiz.

O vôo da borboleta

Já me sinto tolo por sentir-me tão criança, quero-me rapidamente adulto novamente, ou será que nunca fui? Criança, sim, sem limites, sem arrependimentos, sem pra quês, sem porquês. Fui criança, somente isso, e isso tudo. Segui a luz dos olhos que olham sem pudor, sem medo. Sentei e pedi carinho, me entreguei ao frio e viajei no espaço. Bati as asas de borboleta e em segundos voei sobre os sete mares. Não era pra tanto, eu ia à esquina, mas fui convidado a entrar, valia voar os sete mares. Olhando pelo buraco da fechadura pude ver tudo que compunha o recinto até então oculto, uma parte apenas do todo, fato, mas suficiente para preencher a mente eternamente vazia de uma criança. Não sabia eu que neste momento a porta já estava aberta, e que aquela imagem que se movia lentamente já era pra mim. Ora nada, ora tudo, era o que se via do buraco da fechadura. Eu não queria entrar, queria ficar ali, o frio não mais me atormentava, o calor dos olhos preenchia o corpo de luz. Fui encantado pela sutileza do movimento, era um ballet cauteloso, medido, comedido, e em busca da melhor apresentação o corpo alinhava-se inquieto, inseguro, porém firme em sua decisão: não cessaria a apresentação, não agora!!! Poderia ficar ali o dia inteiro, parado, observando, sentindo tudo aquilo, vendo, vendo... vendo movimento, ação, reação, preparação, confusão, solidão, chão... até ele me fez sorrir. Não pude ver os pés de quem o tocava, mas pude ver onde os pés dançavam. Fui criança voando, sentado, observando, fui criança de verdade, criança feliz. E quanto mais eu via, quanto mais ouvia daquele soneto mudo, mais meu coração de criança se enchia de alegria, eu queria traquinagem, queria trela, queria brincar. Mas eu queria mesmo era ouvir uma música, eu iria lá mais uma vez, só pra escuta uma música... Psiiiu, não pode pedir, ou pode? Num sou criança? Canta aquela pra mim?! Pode ser Non, Je Ne Regrette Rien, conhece? Por 13 breve segundos pude escutar outra voz que era a mesma, fui tão feliz nos 13 segundos que queria mais quantos fossem permitidos, quando puder ouvir novamente quero outra voz cantando. Eu gosto de música, gosto de canção, e enquanto via esses movimentos era como se houvesse som por toda parte. No corpo o sorriso começava no pé, preenchia cada poro e subia até arrepiar os cabelos, verdade, isso tudo em 13 segundos, 13 segundos de outra voz, imagina 13 segundos de canção? Sim, mas de onde veio essa criança? Já sinto-me novamente tolo por sê-la... não tem mais dança, não tem mais canto, volto pra casa na mesma velocidade daquele encanto, com o bico amarrado e olhos baixos, entro pelo buraco da minha fechadura e na ultima batida de asa, na hora de cessar o encanto, deixo ficar no buraco da fechadura uma parte do vôo que agora brilha incessante luz néon nos meus olhos. Os olhos são meus, e eu não paro de olhar, é pra lembrar que um dia fui borboleta e soube voar, voei os sete mares e na porta de casa, no frio, eu fui parar, olhei mais bela cena, ouvi mais belo som, senti mais belo cheiro e tive que voltar. No caminho de volta vim em linha reta, não queria demorar, raspei a ponta das asas no buraquinho da porta e ali mesmo me deixei encostar, com o bico amarrado, o corpo todo emburrado levantei pra deitar, na escuridão que reinava sentia por traz uma luz que constante e inconstante teimava a brilhar, virei e vi minhas asas, asas de borboletas que me puseram a voar, brilhava ela a luz néon que me pos novamente a sonhar, com sorriso sincero, pleno e satisfeito segui ao altar, esperarei quanto for, sentado aqui nesta escada, mas com este momento eu quero casar.

Tuas palavras no meu silêncio

Dos sons o mais sincero, o silencio... o turbilhão de falas que me possui deixa meus dedos nervosos, minhas pernas ansiosas, meu corpo inseguro e olhos marejados. Coração?! Como posso senti-lo com todo este silêncio? Ele sequer se atreve a bater...
Tremo ao imaginar possível tal silêncio, tremo descontroladamente ao imaginar a redução deste espaço infinito que transforma sonho em realidade. Posso ver gotículas de suor, posso sentir o cheiro cru, posso tocar o espaço vazio. Tudo posso na presença da tua luz, porque nela sou livre, nela sou teu, meu e do mundo, no teu calor, no teu silêncio sou todo eu... diante de ti as palavras não me pertencem, atrevo-me a questionar sua existência, sou louco e suga-me palavras que jamais pensei...
Confesso ter me sentido abraçado inúmeras vezes com o simples toque da tua respiração que se fazia presente diante de mim vindo de tão longe, nunca pedi por eles, entretanto ganhava o dia quando sentia... De tão longe enviastes sentimentos e sensações de pura mágica, de beleza ímpar, essencial e universal. Como aquele bode, podes tocar o céu e trazer de lá todas as belezas possíveis sem tirar os pés da grama, assim como lavas aos céus nossas belezas terrenas.
A verdade que quer saltar desta boca também se cala diante de ti, ela teme que o mundo não possa suportá-la. Ela só, é vida, ela só, é viva... verdade que fala, que sente, que cala e se faz sentir, verdade que não se pode ouvir. Quem possui esta verdade, possui, e nada mais, pois desta verdade digo: existe enquanto existe e jamais existiu quando deixa de existir. É assim, é puro, é exato, é simples, é fato, é agora, é sempre, é tudo com nada. Fácil de entender quando vemos-nos como barcos, quanto mais, menos, quanto menos, mais...
Este é o silencio que cala as bocas e trás as palavras e carinhos através da ausência. Não carece de toque, de sons e sequer de olhares. Este silêncio é sagrado, o silêncio é a mensagem, e este espaço infinito que teima em reinar se faz justo ao preservar a pureza divina desse sentimento. Estaremos eternamente ligados pelas águas que nos cercam e nos impulsionam sempre em frente em nossos caminhos. Navegaremos eternamente sobre as mesmas águas, que jamais serão as mesmas. Nos encontraremos sempre nos mesmos caminhos distintos e sempre, sempre que nos encontrar-mos calarei e levarás de mim tuas palavras...

É Preciso Perdoar

A madrugada já rompeu
Você vai me abandonar
Eu sinto que o perdão
Você não mereceu
Eu quis a ilusão
Agora a dor sou eu
Pobre de quem não entendeu
Que a beleza de amar
É se dar
E só querendo pedir
Nunca soube o que é perder
Para encontrar
Eu sei que é preciso perdoar
Foi você quem me ensinou
Que um homem como eu
Que tem por quem chorar
Só sabe o que é sofrer
Se o pranto se acabar

Stan Getz

Navegante

Vivendo o agora e o eternamente, sempre
Caminho sem direção
Como um barco que navega nas tormentas e calmarias do oceano
Que visita portos a avista faróis por onde passa
Que apesar de nascer na terra, tem como destino morrer no mar...

Mágica

Palavras doces e amor desmerecido desprendido a mim...
A minha verdade me envergonha, mas não mais me envergonhará

A ti, que me surpreendes com mangas tão longas,
agradeço pelo toque da seda em meus ouvidos,
a sincera, simples e profunda razão.
Agradeço-te pelo inestimável carinho e dedicação.
Sabias são tuas palavras mesmo entre os loucos
santo remédio em doses raras...
A cura é tão dolorosa quanto a doença,
mas com toques tão suaves de seda pura
o mundo volta a girar sob pés insanos.
Curas vagarosamente a cruel e deliciosa insanidade.
Agradeço a ti, que me surpreendes com mangas tão longas...

Tocando o céu


Da dor que me atinge, o medo
Com o medo que me aprisiona, cega e emudece
Aprendo a dizer menos, respirar e ver no escuro
Cada vez mais forte, cada vez mais são
Doce e nobre loucura
Traz-me tua humilde lucidez...

"...Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo."

"Pode gritar brother, pode gritar... Aqui pode!!!"
16/01/2009; 10:09 am; Serra da Coruja; Arcoverde

Venha até mim aquele que poder me alcançar e largue meus calcanhares aquele que não, pois não tenho mais amarras nem correntes, sou livre como o vento e como o vento vou voar.