Perdido José
Olhando a estrada
E de repente me perdi
Vi alguém chegando perto
Fiquei com medo de certo
Mas dali eu não saí
O olho era vermelho
Tinha fogo no cabelo
Eita porra agora eu vi
Nem me pergunte irmã
Quem tava ali era Satã
E quando eu soube quis sair
Mas não me mexia
De mim só o mijo saia
E de joelhos caí
Rezei pra meu “Padin padi Siço”
Pra q não fizesse isso comigo
E o capeta tirasse dali
De repente ele apareceu
Meu corpo todinho tremeu
E ele veio até mim
Tava diferente
Disse com uma voz estridente
-Porque me chamas aqui?
Oxi padin nem lhe digo
Em que pé tava o perigo
Quando cheguei aqui
O capeta apareceu
A mijadeira escorreu
E pelo senhor eu pedi
-E onde está Satã?
Aí foi que lascou irmã
Que ele não tava mais ali
Eu quis lhe dizer
Ele nem quis saber
E foi falando pra mim
-Me diga de pé
Como fizeste José
Pra chegar até aqui?
Eita rapaz
Parece que não ouve mais
Se eu soubesse não estava perdido
Pergunte uma melhor
Pra gente deixar no pó
O que aconteceu aqui
-Está bem José
O que fazias criatura
Antes de vir aqui?
Vixe que deu até um chilique
Voltei pra casa num pique
Pra tomar minha cana com raiz.
O vôo da borboleta
Já me sinto tolo por sentir-me tão criança, quero-me rapidamente adulto novamente, ou será que nunca fui? Criança, sim, sem limites, sem arrependimentos, sem pra quês, sem porquês. Fui criança, somente isso, e isso tudo. Segui a luz dos olhos que olham sem pudor, sem medo. Sentei e pedi carinho, me entreguei ao frio e viajei no espaço. Bati as asas de borboleta e em segundos voei sobre os sete mares. Não era pra tanto, eu ia à esquina, mas fui convidado a entrar, valia voar os sete mares. Olhando pelo buraco da fechadura pude ver tudo que compunha o recinto até então oculto, uma parte apenas do todo, fato, mas suficiente para preencher a mente eternamente vazia de uma criança. Não sabia eu que neste momento a porta já estava aberta, e que aquela imagem que se movia lentamente já era pra mim. Ora nada, ora tudo, era o que se via do buraco da fechadura. Eu não queria entrar, queria ficar ali, o frio não mais me atormentava, o calor dos olhos preenchia o corpo de luz. Fui encantado pela sutileza do movimento, era um ballet cauteloso, medido, comedido, e em busca da melhor apresentação o corpo alinhava-se inquieto, inseguro, porém firme em sua decisão: não cessaria a apresentação, não agora!!! Poderia ficar ali o dia inteiro, parado, observando, sentindo tudo aquilo, vendo, vendo... vendo movimento, ação, reação, preparação, confusão, solidão, chão... até ele me fez sorrir. Não pude ver os pés de quem o tocava, mas pude ver onde os pés dançavam. Fui criança voando, sentado, observando, fui criança de verdade, criança feliz. E quanto mais eu via, quanto mais ouvia daquele soneto mudo, mais meu coração de criança se enchia de alegria, eu queria traquinagem, queria trela, queria brincar. Mas eu queria mesmo era ouvir uma música, eu iria lá mais uma vez, só pra escuta uma música... Psiiiu, não pode pedir, ou pode? Num sou criança? Canta aquela pra mim?! Pode ser Non, Je Ne Regrette Rien, conhece? Por 13 breve segundos pude escutar outra voz que era a mesma, fui tão feliz nos 13 segundos que queria mais quantos fossem permitidos, quando puder ouvir novamente quero outra voz cantando. Eu gosto de música, gosto de canção, e enquanto via esses movimentos era como se houvesse som por toda parte. No corpo o sorriso começava no pé, preenchia cada poro e subia até arrepiar os cabelos, verdade, isso tudo em 13 segundos, 13 segundos de outra voz, imagina 13 segundos de canção? Sim, mas de onde veio essa criança? Já sinto-me novamente tolo por sê-la... não tem mais dança, não tem mais canto, volto pra casa na mesma velocidade daquele encanto, com o bico amarrado e olhos baixos, entro pelo buraco da minha fechadura e na ultima batida de asa, na hora de cessar o encanto, deixo ficar no buraco da fechadura uma parte do vôo que agora brilha incessante luz néon nos meus olhos. Os olhos são meus, e eu não paro de olhar, é pra lembrar que um dia fui borboleta e soube voar, voei os sete mares e na porta de casa, no frio, eu fui parar, olhei mais bela cena, ouvi mais belo som, senti mais belo cheiro e tive que voltar. No caminho de volta vim em linha reta, não queria demorar, raspei a ponta das asas no buraquinho da porta e ali mesmo me deixei encostar, com o bico amarrado, o corpo todo emburrado levantei pra deitar, na escuridão que reinava sentia por traz uma luz que constante e inconstante teimava a brilhar, virei e vi minhas asas, asas de borboletas que me puseram a voar, brilhava ela a luz néon que me pos novamente a sonhar, com sorriso sincero, pleno e satisfeito segui ao altar, esperarei quanto for, sentado aqui nesta escada, mas com este momento eu quero casar.
Tuas palavras no meu silêncio
Dos sons o mais sincero, o silencio... o turbilhão de falas que me possui deixa meus dedos nervosos, minhas pernas ansiosas, meu corpo inseguro e olhos marejados. Coração?! Como posso senti-lo com todo este silêncio? Ele sequer se atreve a bater...
Tremo ao imaginar possível tal silêncio, tremo descontroladamente ao imaginar a redução deste espaço infinito que transforma sonho em realidade. Posso ver gotículas de suor, posso sentir o cheiro cru, posso tocar o espaço vazio. Tudo posso na presença da tua luz, porque nela sou livre, nela sou teu, meu e do mundo, no teu calor, no teu silêncio sou todo eu... diante de ti as palavras não me pertencem, atrevo-me a questionar sua existência, sou louco e suga-me palavras que jamais pensei...
Confesso ter me sentido abraçado inúmeras vezes com o simples toque da tua respiração que se fazia presente diante de mim vindo de tão longe, nunca pedi por eles, entretanto ganhava o dia quando sentia... De tão longe enviastes sentimentos e sensações de pura mágica, de beleza ímpar, essencial e universal. Como aquele bode, podes tocar o céu e trazer de lá todas as belezas possíveis sem tirar os pés da grama, assim como lavas aos céus nossas belezas terrenas.
A verdade que quer saltar desta boca também se cala diante de ti, ela teme que o mundo não possa suportá-la. Ela só, é vida, ela só, é viva... verdade que fala, que sente, que cala e se faz sentir, verdade que não se pode ouvir. Quem possui esta verdade, possui, e nada mais, pois desta verdade digo: existe enquanto existe e jamais existiu quando deixa de existir. É assim, é puro, é exato, é simples, é fato, é agora, é sempre, é tudo com nada. Fácil de entender quando vemos-nos como barcos, quanto mais, menos, quanto menos, mais...
Este é o silencio que cala as bocas e trás as palavras e carinhos através da ausência. Não carece de toque, de sons e sequer de olhares. Este silêncio é sagrado, o silêncio é a mensagem, e este espaço infinito que teima em reinar se faz justo ao preservar a pureza divina desse sentimento. Estaremos eternamente ligados pelas águas que nos cercam e nos impulsionam sempre em frente em nossos caminhos. Navegaremos eternamente sobre as mesmas águas, que jamais serão as mesmas. Nos encontraremos sempre nos mesmos caminhos distintos e sempre, sempre que nos encontrar-mos calarei e levarás de mim tuas palavras...
É Preciso Perdoar
A madrugada já rompeu
Você vai me abandonar
Eu sinto que o perdão
Você não mereceu
Eu quis a ilusão
Agora a dor sou eu
Pobre de quem não entendeu
Que a beleza de amar
É se dar
E só querendo pedir
Nunca soube o que é perder
Para encontrar
Eu sei que é preciso perdoar
Foi você quem me ensinou
Que um homem como eu
Que tem por quem chorar
Só sabe o que é sofrer
Se o pranto se acabar
Stan Getz
Navegante
Caminho sem direção
Como um barco que navega nas tormentas e calmarias do oceano
Que visita portos a avista faróis por onde passa
Que apesar de nascer na terra, tem como destino morrer no mar...
Mágica
Palavras doces e amor desmerecido desprendido a mim...
A minha verdade me envergonha, mas não mais me envergonhará
A ti, que me surpreendes com mangas tão longas,
agradeço pelo toque da seda em meus ouvidos,
a sincera, simples e profunda razão.
Agradeço-te pelo inestimável carinho e dedicação.
Sabias são tuas palavras mesmo entre os loucos
santo remédio em doses raras...
A cura é tão dolorosa quanto a doença,
mas com toques tão suaves de seda pura
o mundo volta a girar sob pés insanos.
Curas vagarosamente a cruel e deliciosa insanidade.
Agradeço a ti, que me surpreendes com mangas tão longas...