Sem Saber
Sem saber,
Brilham olhos inocentes
Despertando profundos desejos
Inseguros e indecisos
Almas desconhecidas
Iludidas, desiludidas
Buscam a calmaria
Em águas inexploradas.
Calado espera o coração
A espera da surpresa
Mesmo que os corpos
Já falem por si,
Até que tudo aconteça,
Nada acontecerá.
Pois sem importância é o fim
Poupado de um lindo começo
E sem valor é a luta
Que não é apaixonada.
Abutre
Tudo que há aqui está impregnado de intencionalidades pré-formuladas e tendenciosas. Não planejei qualquer palavra, mas tudo em mim clamava por este desabafo.
Anseias pelo poder como quem deseja saciar um vício
Mostra-me teu lado possuidor e cruel
Caminhas com tuas garras afiadas ao meu encontro
És calculista, mas não fria
Eis o teu erro
O poder ti controla como desejas fazer a mim
És a possuída, não a possuidora
A ilusão de que podes tal proeza te consome
E tu erras
Cega pela chama luminosa de minha alma
Sedenta pela posse da minha vitória
Tu erras
O poder não cabe em tuas mãos
É um fardo pesado e tu não o suporta
És fraca como todos os outros
Negas tuas intenções
Escondes teus desejos
Senta sobre teus semelhantes e louvas os acima de ti
És menor que eles por isso
Almejas demasiadamente os anseios alheios
Teus próprios são falsos por isso
Não encontras no fim a felicidade
És sempre vencida pelo cansaço
Lutas uma batalha vencida
Ou melhor, perdida
És o mais fiel retrato do fracassado
Humilhas a si por um tanto de aprovação
Ah essa carência que te consome
Carência de poder
Abstinência do mais cruel dos vícios
Maldita a sorte dos que o possui
Falta-te saber quem tu és
Não sois o povo, se é o que pensas
Não pode o ser
Não sois nada se não quem tu és
Aquela que deseja ser alguém
Que deseja ser quem não é
Que deseja ser o outro e não quem é
Aquela que se ilude com o sucesso que não tem
E que aconselha o próximo com armadilhas de poder
Um abutre comendo carcaças da vitória de outrem.
Um sopro
O fato é o seguinte: sou assim, nada mais que isso: um ponto de exclamação. Não que me falte palavras para descrever-me, na verdade tenho muitas, mas nenhuma que me agrade. Palavras não descrevem sentimentos, nem paisagens. São ditas da boca pra fora, literalmente. Quando saem ferem, mentem, zombam, marcam, omitem... Não podemos confiar. Não confio no que ouço destes a respeito daqueles, confio naquilo que presencio . O que não implica que o que presenciei seja verdade, pra mim são apenas fatos.
Acredito num mundo onde os fatos não são julgados . Sonho com o dia em que seremos livres para nos julgar de acordo com nossas leis e necessidades. Espero ansioso a chegada deste dia, o dia do julgamento final.
Quem melhor do que a tua consciência para te julgar? Se as palavras não fossem assassinadas diariamente por nós creio que concordariam com este pensamento. As palavras sonham também, sonham com o dia em que serão sinônimo de alegria e satisfação àqueles que a enviam e aos que as recebem.
Já fui um defensor das palavras, hoje me calo frente ao caos que causam. As palavras já não fazem mais sentido na minha boca, na tua também não, acredite. Elas não sabem o que dizem, nem dizem algo importante, pois o importante não se sabe dizer. Da alma não se fala, não se descreve, não há palavra no mundo que ouse falar sobre ela. Não se explica um sentimento, e quem o explica mente, ou omite, pois não há palavra suficiente para tal oficio.
O que sei é que deveríamos ser todos mudos, o máximo possível. Assim sentiríamos mais e falaríamos menos, agradaríamos mais e agrediríamos menos. As palavras devem ser usadas com respeito. Aos que não sabem, todas elas tem um significado e uma função. Aos que não entendem, quando não se está certo do que se fala, não se deve falar.
Quando faltam palavras faltam mentiras, quando não há julgamento não existe injustiça.