De volta à Terra do Nunca!!!

Postado por Thiago de Paula On 22:57

Há tempos não via uma partida de xadrez tão boa. Também há muito não encontrava tão desafiadores adversários. As jogadas mirabolantes e, de fato, sensacionais, tornaram a partida um passeio de roda gigante, ou de montanha russa talvez. O retorno à essência humana. Emoção, sentimento, a continuidade do tempo, o tempo, o lugar, a ausência, os sonhos e as garantias, a instabilidade, a dúvida constante, a busca pela certeza. A certeza de ser humano.
Uma partida cheia de emoções, com direito a reviravoltas e superações, foi palco de um belo espetáculo. Ferozmente os jogadores se digladiaram neste palco xadrez, preto e branco, duro. Sem dó nem piedade, ambos despejavam todas as suas melhores jogadas em função da vitória, até que restaram apenas Rei e Rainha para os dois jogadores.
Exaustos, cansados de tentar ganhar um jogo impossível, os jogadores decidem por uma trégua, ambos ganhariam aquela partida, mas haveria outra, imensamente maior e mais difícil. A partida do século, o grande desafio da vida destes jogadores, o reencontro. Nada mais difícil do que enfrentar novamente aquele que você não pôde derrotar. O clima de cautela constante, pisar em ovos, andar sobre brasas, sorrir e chorar simultaneamente são ingredientes fundamentais para esta partida final, ou seriam inevitáveis?
Nada mais importa agora, os jogadores estão se preparando para um próximo confronto, entretanto, ambos sabem que o provável final desta outra partida é o mesmo da última partida, que foi igual à antepenúltima, que foi igual a anterior e assim sucessivamente, o empate com Rei e Rainha intactos.
O mesmo fim para uma mesma história, o final justo e possível para tão bons jogadores, o empate. Inevitável, diante de jogadores tão experientes, tão destemidos, tão bichos... Beleza de cores num tabuleiro preto e branco, linhas e traços finos, caminhos sinuosos, jogadas inimagináveis, cenário de um grande espetáculo.
De fato sempre foi assim, o olhar sempre foi de desafio, de questionamento, de curiosidade, de medo. O toque sempre foi quente demais, esquentava até mesmo peças de marfim. O olfato, o cheiro do desafio, cheiro do calor, do frio. A realidade sempre foi distinta, mas o desejo de vitória sempre foi o mesmo.
Tão próximos e tão distantes, os olhos pouco se encontram, as mentes sempre estão contra, apesar de estarem fio a fio, as mãos não se tocam, há uma corrida contra o tempo. Quem vencerá em menos tempo? A batalha sempre termina empatada, mas que mistério!!! Apesar da lógica existente, baseada no equilíbrio técnico e psicológico dos jogadores, é pouco provável que duas partidas de xadrez seguidas terminem em empate, menos ainda se este número subir alguns degraus.
Eu? Continuo assistindo de perto a estas partidas espetaculares, não perco por nada neste mundo tão grandioso desafio, quero estar presente quando um dos dois ganhar...

2 comentários

  1. Confundir a conclusão do leitor mas ao mesmo tempo, alimentá-lo de suposições e curiosidade.
    Há que se admirar e só!

    Posted on quinta-feira, 11 dezembro, 2008

     
  2. A trégua nunca deve ser encarada como uma covardia ou confundida com não saber perder, como pode acontecer com os leigos ou tolos. Ela é fundamental, pois assim, numa nova partida e munidos de novas peças, sejam estas de marfim, de prata (como as palavras) e de ouro (como o silêncio), a partida ganha um arrojo e um fascínio sempre maior. E c/ a troca que existem nas jogadas, ambos os adversários sempre retiram maturidade e experiência para as suas próprias jogadas e próximas, nesta ou em outra mesa. E que venham outros jogos, foi bom sentir e visualizar "o cenário" desta perspectiva. E, como em nenhum outro jogo, que vençam os dois!
    =***

    Posted on quinta-feira, 11 dezembro, 2008

     

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